Texto para catálogo do 7° Prêmio EDP nas Artes, uma parceria do Instituto EDP e Instituto Tomie Ohtake

 Na presente exposição Arivanio apresenta uma sequência de pinturas cuja temática perpassa

desde temas universais até sua mitologia pessoal. As Lobas representadas por ele nessas

pinturas são, na maior parte das vezes, cadelas brancas, magras, provavelmente vira-latas,

grávidas ou em processo de amamentação de suas crias, o que se percebe por seus

proeminentes úberes. Tais cadelas remetem a uma em especial, que teria vivido na

comunidade de Arivanio: sempre que ela paria, seus filhotes eram mortos pela população

local, que queria evitar sua proliferação por ali. Remete também a um pesadelo recorrente do

artista, que afirma volta e meia sonhar que um cachorro lhe devora os genitais.

Mas Arivanio vai além. Se a cadela grávida nos remete a situações bastante humanas, como a

dor do parto, o sofrimento pela perda dos filhos e a amamentação (o cachorro é talvez o

animal mais próximo do homem), também nos evoca situações e mitos fundadores do

Ocidente, como a fundação da Roma Antiga, a qual o artista homenageia em A Loba de 

Rômulo

e Remo (2018). Segundo a lenda, Rômulo e Remo, os fundadores daquela que se tornaria a

cidade mais importante do mundo, teriam sido abandonados à margem do rio Tibre e

amamentados por uma loba. O animal em questão é a mesma cadela branca de Arivânio,

identificada por seus úberes, mas que agora ganha proporções muito maiores, imponente em

sua aparência quase estática e também pelos louros imperiais que ladeiam sua cabeça. Abaixo

dessa loba classicizante são amamentadas duas crianças, Rômulo e Remo, para os quais o

artista tomou como modelo seus primos menores. Se nas demais Lobas a pintura era marcada

por sofrimento, movimento e sentimentos mais pronunciados, aqui a atmosfera é mais rígida,

monumental, classicizante. A paisagem, composta pelas cores puras vermelho e preto – além

de duas árvores verdes –, abre-se como um cenário que apesar de atraente, é impenetrável e

imóvel.

E é saindo de Quixelô e passando por seus sonhos, sua militância artística, mitos fundadores da

humanidade, História da Arte e personagens conhecidos ou não que Arivanio vai construindo

sua poética e nos oferecendo um pouco do que pode vir a ser não apenas uma arte naïf, mas

uma arte contemporânea feita pelo povo e para o povo, como brada em seu manifesto.

Texto de Théo Monteiro

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